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Raconte-Moi une Histoire

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Passava os olhos atentamente por cada palavra que compunha uma frase do livro que havia trazido para a rua acompanhando-a enquanto tomava um singelo café. Gostava de ler rodeada de gente como que enclausurando-se do barulho, do frenesim de pessoas que agitadamente se moviam em seu redor e conversavam sem cessar. Pelo canto do olho, quando sentiu a porta abrir-se para mais um cliente se vir abrigar da chuva que fustigava o dia escuro, viu uma figura que lhe despertou a atenção. Vestia roupa casual, roupa de fim-de-semana, típica de quem passa os dias aprisionado por um fato e gravata e desespera por se libertar do jugo do colarinho. Barba por fazer, telefone na mão enquanto observava e saboreava um café, pensativo. Por impulso, ao sentir-se observado, ripostou a investida inquisidora. Deparou-se com um olhar abusador de quem olha sem vergonha. Sorriu sem deixar de a fitar. Permaneceram, sem pressa, cada um embrenhado no seu escasso personal space, prolongando a sua estadia mais tempo que o habitual só para verem até onde aquele olhar e sorriso poderiam ir. Ela não havia pregado olho. Envergava ainda as roupas da noite anterior, em tons de preto como era hábito, um vestido justo colado ao corpo salientando-lhe as curvas que a natureza lhe havia feito questão de proporcionar, sapatos de tacão e maquilhagem já esbatida embora plenamente funcional. Decidiu colocar fim ao impasse. Pegou num guardanapo, retirou uma caneta da bolsa e escreveu apenas: "Se te dissesse que te quero, seguirias-me?". Arrumou as suas coisas sentindo nas suas costas um olhar desiludido pela sua partida inesperada mas não sem antes o surpreender, colocando o bilhete em cima da sua mesa. E sem lhe dar hipótese de responder, encaminhou-se lentamente para a saída.
Não hesitou. Apressou-se a pegar nos seus pertences, deixou uns trocos em cima da mesa e caminhou atrás dela, não queria correr o risco de a perder por entre os transeuntes que nestas alturas pareciam multiplicados por mil e se tornavam autênticos obstáculos, barreiras a ultrapassar. Virou à direita para o que parecia ser um beco. Era cedo na manhã por isso, por ali, sabia não se encontrar vivalma. Sentia-o atrás de si, calado, apressado, num passo cadenciado imitando o seu. Estacou ao chegar ao local que queria e ele parou atrás dela. Girou sobre os seus tacões, encarando-o. Ele mexeu levemente os lábios, inspirando o ar como que determinado a falar. Ela, incisiva, chegou perto dele, colocou-lhe um dedo na boca e disse apenas: "Shhhh...". Pegou-lhe o cabelo pela nuca, com mais força do que ele esperava, encostou-o contra si e beijou-o, um beijo sabor a café. O mote estava dado. Era ali e agora. Ele percebeu-o instantaneamente, pela intensidade do seu beijo, pelo trincar da sua língua e pela sua mão que já se encontrava a trilhar os caminhos da sua excitação. Para ele, aquele gesto constituiu a autorização tácita para ele desfrutar do corpo dela também. Percorreu-lhe as curvas que havia espreitado no café, deteve-se no peito, não muito volumoso mas firme e curvilíneo. Até que, ofegando desenfreadamente, possuída por um qualquer demónio interior, ela se encostou à parede, virando-lhe as costas e abrindo as pernas para lhe mostrar onde o queria. Ele não se fez rogado e num movimento único, colou o seu corpo ao dela e entrou de uma vez só. Gemeu de prazer ao sentir o calor do seu interior e a leveza com que deslizou para dentro dela. Primeiro devagar, bombeando apenas o suficiente para a sentir e se fazer sentir. Depois, aumentou a cadência das suas investidas, agarrou-lhe o cabelo na nuca, inclinado-a para si e penetrou-a até a sentir sucumbir de prazer. O risco de serem vistos, intensificava todas as sensações e ele não demorou, depois de a sentir saciada, a atingir um violento orgasmo. Ela, com o sentimento de dever cumprido, depositou-lhe um breve beijo ao de leve nos lábios e rodopiou dali para fora, deixando-o para trás, sem verdadeiramente saber o que o tinha atingido. O fósforo queimou rápido mas ardeu o suficiente para incendiar tudo à sua passagem. No dia seguinte e nos posteriores a esse, voltou ao local do acontecido na esperança de a voltar a ver, de lhe perguntar porquê, de a conhecer, de ouvir a sua voz. Esforços inglórios pois nunca mais a encontrou, nunca mais a viu. Resignou-se e concluiu que há experiências belas pela sua intensidade, pela sua simplicidade. Repetir, naquele caso, poderia muito bem desfigurar o imaginário criado. Sorriu sentado à mesa do café, mexeu o chá e deixou-se inebriar pelo aroma a frutos vermelhos. 

Inspirado pelo rapaz que há dias visitava o "Double Life" no seu telemóvel sentado à mesa do café a meu lado.
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