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Hurt me like you mean it

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Sente-se um frio gélido que nos percorre o corpo. Tão frio que nos arrepia as entranhas, que as revolve numa indisposição nervosa, que nos prosta de joelhos, caídos sem forças. Recolhemo-nos sobre nós próprios, dispostos a ser fuzilados por um tiro silencioso do revólver certeiro da vida. Sente-se um frio gélido que nos congela a alma, que a transporta para o lado da sombra e onde as imagens, numa cavernal alegoria deixaram de ser tão belas. Recordamos aquelas outras, as de antes, em que tudo batia certo e em que o sorriso se mantinha incólume no rosto, em que a perfeição parecia estar ao nosso alcance. Sentimo-la agora fugir por entre os dedos, escorregadia, solta que nem areia seca de uma praia desabitada. Recordamos, qual curta-metragem que nos passa diante dos olhos antes de morrer, os momentos importantes daquilo que por instantes vivemos. Vemos o primeiro sorriso trocado, o primeiro abraço, o primeiro beijo dado, aquele beijo especial que nos enfeitiçou. Vemos o momento em que as mãos se entrelaçaram para não mais se apartarem, vemos as gargalhadas, a cumplicidade. Vemos o primeiro toque, aquele que nos aqueceu o corpo e nos fez querer mais. Vemos o primeiro arrepiar da pele imbuída do desejo, vemos o primeiro explodir de prazer, aquele que nos fez ter a certeza que não se sentiu antes prazer igual. Passam depressa, a correr, num condensado daquilo de que somos obrigados a abdicar. Enregelados, aguardamos pacientemente que o corpo que outrora nos aqueceu, se venha de novo encostar a nós, se encaixe num abraço de corpo inteiro. Queremos com toda a força que em fúria ele nos venha preencher, que sinta vontade de nos tomar, de nos saciar o vício de amor, de paixão. Queremos sentir que a saudade é recíproca, que o nosso corpo lhe falta tanto quanto a nós, que a protecção daquele guarda-chuva invisível afasta a chuva de lágrimas que ousam cair-nos desenfreadamente pelo rosto.
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